quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Felizmente fui criado assim
Por Luiz Maia

Na data em que se comemora o 'Dia das Crianças', venho aqui relembrar das noites estreladas em que ouvia minha mãe dizer que acreditava em sereias. Sua crença era inabalável a ponto de eu, por um bom tempo, acreditar nessa estória também. Dos quatro aos oito anos, acreditei na possibilidade de existir a figura do Papai Noel. Nos meses de dezembro, meu pai me levava pela mão e se dirigia à famosa loja Viana Leal. Já diante do 'Papai Noel', eu pedia o meu presente de Natal! Claro que eu nunca recebi nada, mas seguia acreditando. 

Quando eu, aos cinco anos, vi mamãe entrando em casa trazendo no colo minha primeira irmãzinha, corri para o terraço para conferir se as pegadas da 'cegonha' ainda estavam lá. Ou seja, eu acreditava piamente na estória da cegonha que trazia no bico um bebê. Havia pureza no coração das crianças da época. Estórias de trancoso, contadas por minha mãe, fortaleciam o lado lúdico e imaginativo, nos ajudando no crescimento como ser humano. Felizmente fui criado assim.

Após ter vivenciado algumas experiências amargas é que passei a lembrar com saudade da convivência que tive e tenho com os parentes e amigos. Hoje percebo com mais clareza a necessidade que temos de prestar mais atenção em cada um deles: nossos pais, irmãos, tios e avós. Precisamos saber como estão, onde moram, o que sentem e o que fazem. Eu gostaria de estar ao lado de todos, desfrutar de uma boa conversa para extrair lições de bondade e sabedoria, mas compreendo que nem sempre os nossos desejos podem ser concretizados.

Só a maturidade nos permite fazer esta reflexão. Mas fica a sugestão de que devemos ser mais presentes, estar mais vezes juntos, sermos mais generosos com o próximo. Em poucas palavras, eu traduzo a carência das conversas amigáveis, a falta de abraços, quem sabe ouvir aquela piada que somente meu tio Adalberto sabia contar. Afinal, parece que foi ontem que eu estava de calças curtas defronte de um bolo de chocolate. A sala cheia, parentes felizes a festejar mais um aniversário. Tudo ficou longe demais. Por onde andam meus tios, primas, meu pai e irmãos? E os amigos que não os vejo mais? Aos poucos vamos perdendo nossas referências, sem que nada mais possamos fazer. Por que me presenteiam com tantas ausências, se ao menos não me foi dado o poder de esquecer?

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Exaltação à vida
Por Luiz Maia

Ao ler uma matéria sobre o terceiro milênio fui tomado por uma súbita necessidade de refletir sobre o que eu já havia vivido e sobre o tempo que ainda me resta. Num primeiro momento as lágrimas corriam fáceis pelo meu rosto. Mas como evitar as emoções causadas pelo sentimento iminente de perda? Noutras palavras, eu me sentia como se estivesse a me despedir da vida, das pessoas, do mundo. São muitas as razões que a vida nos oferece para sermos felizes, mas só passamos a compreender melhor quando já somos adultos.

Já tendo passado dos sessenta anos é natural que o meu tempo por aqui comece a declinar. Isto é o normal, é a lei da natureza. Entretanto, nunca em toda vida me senti tão bem, útil, alegre e feliz. Ademais, eu experimento um período rico de plena inspiração na criação de crônicas que um dia tornar-se-ão livro. Inspiração capaz de deixar qualquer adolescente com certa inveja. E justo nesta hora em que eu me sinto de bem comigo mesmo, pressinto os sinais crepusculares da vida a me chamar como a condenar-me a me afastar dos amigos, da família, da vida, do mundo...

Nunca amei tanto a vida como agora e dela jamais abriria mão se tivesse o poder de controlar os efeitos da velhice. Como dói saber que um dia irei deixar tudo isso. O que será da minha amada sem ouvir os meus galanteios, sem a minha presença ao seu lado? Eu sei que eu não suportaria estar muito tempo longe dela. Para que se avalie o quanto que me custa dizer isso, eu seria incapaz de expressar tal sentimento através da fala, me faltaria voz. O faço agora por estar amparado pelo recurso do dedilhar sereno das teclas de um computador, já molhadas pelas lágrimas que não eu posso conter...

Eu preciso viajar por estradas de chão batido à procura da sombra das jaqueiras. Comer frutos tirados do pé. Assistir a um filme de Carlitos. Comer chocolate. Andar de ônibus num domingo à tarde. Abraçar meus irmãos. Beijar minha mãe mais vezes. Declarar amor à humanidade. Fazer uma poesia para quem amo tanto. Despedir-me dos vizinhos que nem conheço. Pedir desculpas a quem de direito. Tomar caldo de cana com pão doce. Tomar um cafezinho com tapioca. Plantar roseiras. Dar pão a quem tem fome.

Pintar um quadro a óleo com cores vivas. Pedir perdão àqueles que um dia magoei. Enxergo nas coisas simples o que de mais saboroso e significativo encontramos na vida. Como poderia ser mais fácil viver se tivéssemos a consciência em desfrutar das pequenas coisas que tornam nossa vida mais feliz. No crepúsculo da vida, estaríamos plenos, sem nos preocuparmos com o que não nos foi permitido viver!

Luiz Maia
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domingo, 2 de agosto de 2015

Abrilhantando a vida
Por Luiz Maia

Existiu uma mulher em Vila do Conde que escrevia poesias para presentear os casais apaixonados - ela fazia de sua arte uma razão de vida. Conheci a história de uma mocinha simples, em Santiago do Chile, que dizia descobrir o futuro das pessoas através das cartas de baralho - mas sua intenção era apenas a de plantar esperança no coração dos homens. Um dia eu vi uma jovem pintando lindas telas em Piranhas, cidade situada às margens do Rio São Francisco - seu interesse era levar a cultura de sua gente aos turistas que atravessavam aquele Rio. Sei de muitas mulheres que fazem artesanatos de barro em Tracunhaém - PE, outras que plantam mandioca e depois trabalham nas casas de fazer farinha em Brejão - PE. Atividades de pouca visibilidade que elas exercem, ora por diletantismo, ora para suprir suas necessidades. Todas se consideram felizes, agentes de suas vidas, responsáveis por suas escolhas, realizadas em seus afazeres.

Havia na ABBR, uma clínica de reabilitação no Rio de Janeiro, um jovem internado de nome Luís. Um mergulho num rio o deixara tetraplégico, passando a viver com sérias limitações numa cadeira de rodas. Na clínica ele passou quase três anos, onde fora se tratar. Um dia precisou retornar à sua cidade, Salvador - Bahia. Não demorou muito para ele nos escrever. Entre as notícias recebidas, uma chamou-me a atenção: dizia ele que só agora havia encontrado a felicidade, já que estava podendo tomar o seu banho embaixo do chuveiro, algo que ele só fazia deitado no leito do hospital. Em outras palavras, ele passou três anos tentando se recuperar de um trauma, vindo a descobrir a "felicidade" ao tomar banho de corpo inteiro, livre como um passarinho. Como pode ser simples ser feliz.

Quantas pessoas reclamam da vida e não encontram razões para ser feliz. Talvez não percebam que muito do que lhes acontece é resultado das opções que fizeram na vida. Há quem tenha escolhido percorrer caminhos mais difíceis, tortuosos. Outros buscaram fora de si ou em um futuro idealizado a tão desejada felicidade. Esquecem de viver o presente, de desfrutar das atividades mais simples e cotidianas onde, por vezes, a felicidade se esconde. Parecem preferir olhar o que lhes falta. Ou talvez nem ao menos saibam o que desejam da vida e por isto são incapazes de reconhecer a felicidade que está à sua frente. Seria então a felicidade uma escolha, uma forma de tecer a vida, de trilhar nossa jornada? Se assim for, só nos resta optar por ser feliz e prosseguir no caminho que nos levará à satisfação interior.

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domingo, 5 de julho de 2015

Entre a paz e a inquietude

Por Luiz Maia

Houve um tempo em que eu acreditei na possibilidade das pessoas serem mais solidárias. Apostei na esperança de ver uma humanidade mais feliz. Melhor em todos os aspectos. Talvez tenha sido isso o que de melhor ocorreu em minha vida. Hoje eu ando à procura de boas notícias mas confesso que está sendo difícil. Faz tempo que o brasileiro não encontra espaço para sonhar, agarrar-se à esperança ou mesmo falar de amor. As pessoas esqueceram os gestos lúdicos, a conversa fiada com os amigos nas calçadas em frente das casas, uma época distante em que tudo soava encantamento...

O meu espírito carrega consigo um corpo contrariado, mas logo se aquieta diante da beleza da noite. Mas a madrugada chega e eu preciso estar alerta para a realidade. Enquanto o dia não chega eu sigo caminhando a despeito de tudo. Não demora e eu começo a imaginar alguns fatores imprescindíveis para se forjar um homem. Eu queria dizer aos jovens que estudem. Trabalhem. Não esperem migalhas que não convém. Apostem na meritocracia. Sejam reconhecidos pelo seu próprio valor. Não aceitem favores de nenhum governo. Vivam do seu suor. Do conhecimento adquirido. Sejam generosos. Tentem agir com gratidão. Perdoem os gananciosos. Ajam com retidão. Valorizem a honradez. Reconheçam a honestidade como o alicerce do nosso caráter.

Se eu pudesse lhe dirigir uma palavra diria que exija menos dos outros. Entregue-se de corpo e alma à vida e agradeça em silêncio os anos vividos. Seja gentil. Olhe para as pessoas com a sinceridade de quem inspira amor. Vale a pena ser ético. Imponha no cotidiano ações que dignifiquem à espécie humana. Escute os sons da natureza. Contemple o pôr de sol. Curta a lua por trás das montanhas. Plante bastante árvores: elas um dia darão frutos, flores e sombra de que tanto necessitamos. Essas atitudes não passarão despercebidas. A natureza e a humanidade agradecem.

Levei a vida inteira a me equilibrar em cima de uma navalha: de um lado a vida, do outro a morte. Uma força estranha, que eu não sabia explicar a razão, sempre soprava a meu favor, empurrando-me para a vida. Eu precisava estimular o meu lado fraco a continuar insistindo em poder um dia ser forte. Mesmo incrédulo, por instantes, eu precisava mentir para mim mesmo e assim poder fazer valer a obstinação que em mim vivia adormecida. Sei que sobrevivo entre a paz e a inquietude porque aprendi com o silêncio a caminhar por estradas difíceis, mesmo tendo de me distanciar daqueles que, mais rápidos, conseguem sempre chegar à minha frente...

Luiz Maia
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terça-feira, 19 de maio de 2015

Escárnio com o dinheiro público
Por Luiz Maia

Nas conversas que tenho com um amigo jornalista, ele habitualmente passeia pelos labirintos sombrios da República. Às vezes surpreende ao mostrar facetas despercebidas do caráter sórdido de alguns figurões na Capital Federal. Isto nos leva a refletir sobre certas ações políticas que ignoramos mas que têm influencia direta no nosso dia a dia.

Indignado, certa vez confessei ao amigo que era difícil acreditar em um sistema no qual deputados, senadores e magistrados parecem ocupar cargos não para servir à sociedade, mas para satisfazerem interesses pessoais. E logo me veio à lembrança as passeatas nas ruas pedindo "Diretas Já". Hoje muitos daqueles estão no poder. Vejam só o resultado. Aqui não é o Reino Unido onde a Democracia funciona há 800 anos. Ignorar a índole e a cultura do nosso povo é querer continuar neste trágico jogo de faz-de-conta. O Brasil não se preparou para o regime democrático, claro que não.

Quem pode negar que o mensalão e a lava jato mostraram as vísceras de um sistema político podre, corrupto e viciado no qual o cinismo exercido por autoridades já faz parte da liturgia do cargo? Afinal já teve de tudo: crimes de lesa pátria, delação com provas contundentes, quebra de sigilos bancários, telefônicos, etc... O escárnio com o dinheiro público é deplorável. Apesar disso vem Lula se dizendo "indignado com a corrupção no Brasil". Nesta hora o homem de bem procura um buraco para enfiar a cabeça e não acha. O clássico de Pirandello - "assim é se lhe parece" - caberia bem neste caso.

Mas enquanto cresce a indignação com o atual governo, a repulsa da sociedade com o estado de decadência moral, política e econômica do País, os que fazem este mesmo governo se divertem frequentando festas de casamentos de endinheirados, passeiam em jatinhos particulares, gastam fortunas com cartões coorporativos, tudo isto acontecendo sem a devida preocupação com o destino trágico a que levaram o nosso País porque eles sabem que aqui embaixo o 'zé povinho' é quem sempre paga a conta. Infeliz é a Nação onde a impunidade vigora, sendo quase uma instituição que resiste ao tempo.

Luiz Maia
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terça-feira, 14 de abril de 2015

Querem desqualificar o sentido dos protestos

Por Luiz Maia

Após às manifestações ocorridas em 15 de março o brasileiro voltou às ruas no domingo 12 de abril, demonstrando sua indignação com a roubalheira e o sucateamento do País. No entanto o que me chama atenção é o fato de governistas e setores da imprensa tentarem desqualificar o sentido do protesto, ressaltando um número menor de manifestantes que colocariam o governo numa possível zona de conforto. A comemoração no Planalto é prática recorrente de um governo que não respeita ninguém. Nossa primeira reação é o sentimento de nojo e de repulsa pela atitude de maus brasileiros que não enxergam que a razão básica dos protestos é a sociedade que não suporta conviver com quadrilhas instaladas em Brasília. Fechar os olhos para a importância das pessoas saírem às ruas, a demonstrar sua insatisfação com um desgoverno que comete escândalos que envergonham o País, nos parece uma atitude irracional.

A crise instalada no Brasil não é apenas de caráter político e econômico. Existe um vácuo de valores no terreno moral e ético que envolve os poderes públicos. As instituições estão tomadas por patrulhas ideológicas, vítimas da corrupção e da improbidade administrativa. Enquanto dormimos o País é surrupiado por quadrilhas disfarçadas em partidos políticos. Política virou sinônimo de falcatrua já que as autoridades não primam pela decência e a honestidade com a coisa pública. Vale dizer que os desmandos tiveram início quando o ex-presidente começou a semear o ódio na população jogando pobres contra ricos, negros contra brancos com a intenção de fatiar a sociedade em cotas e se perpetuar no poder. Em dois mandatos o falso "salvador da pátria" promoveu um retrocesso no relacionamento de classes no País, intensificando antigas desavenças relativas à cor da pele, condição social, poder econômico. Não resta dúvida que em breve este senhor será cobrado pelo enorme desserviço prestado ao País.

Enquanto o cenário político não muda aumenta o número de brasileiros que necessita fazer recall de caráter. Todos os dias a Polícia Federal sai por aí desarticulando quadrilhas em sintonia com o Ministério Público. Essas instituições têm se mostrado incansáveis no combate ao crime. Ambas merecem o respeito e a admiração da sociedade pelo excelente trabalho realizado. A realidade impõe dizer que o brasileiro não aceita as práticas de um partido que há 12 anos suprime nossos melhores valores, em nome de uma ideologia fracassada visando um projeto nocivo de poder. Mentira, corrupção, ilusão e falsidade. Seria este o "jeito petista de governar"?

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Amor à natureza

Por Luiz Maia

O homem é o maior predador do Universo. Ele assassina o semelhante, os animais para vendê-los e saboreá-los à mesa. Destrói matas e florestas, polui rios e mares. Eu não entendo tanta maldade. Amar à natureza é o melhor que há mim. Se existir reencarnação, como dizem os espíritas, devo ter sido um animal, uma árvore ou um pássaro em outras vidas...

Um dia imaginei que eu era uma frondosa árvore das poucas que restam da Mata Atlântica. Eu ficara feliz ao oferecer fruto e sombra às pessoas, embelezando o ambiente e levando ar puro e oxigênio para o homem aspirar. Eu me sentia útil e feliz. Até o dia em que alguns homens se aproximarem de mim com motosserras na mão. Sem escrúpulos nem piedade, cortaram os meus galhos, deixando-me morta e abatida no chão. Em pouco tempo eu fazia parte da mobília de uma família, passei a ser um simples móvel...

Continuando o inesperado sonho, pedi para nascer agora em forma de pássaro. E logo eu renascia debaixo das penas azuis de um lindo pássaro da Amazônia. Que maravilha poder desfrutar do infinito das matas, do imenso céu azul! Eu me sentia livre e dono do mundo. Minha vida era pura alegria, eu vivia feliz cantando para o mundo que me acolhia. Perdi a conta das vezes em que eu voei sobre quilômetros e quilômetros de florestas virgens, planando sobre cachoeiras até voltar ao meu ninho. Mas um dia vieram os homens e me prenderam em um alçapão. Humilhado, junto a outros pássaros, quando decidiram nos vender em cidades distantes. Não suportei os dias preso e morri. Não demorou muito para eu virar uma ave empalhada, uma forma estranha dos homens sentirem prazer...

Mas eu pedi a Deus para nascer novamente. Dessa vez eu quis vir em forma de vento. Não demorou muito para eu estar em atividade de novo, só que mansamente. Mas aí comecei a me lembrar de outras vidas, do mal que me fizeram e num segundo tomei raiva dos homens. Num momento de total insensatez eu pensei em me vingar de todos. Afinal, eu era o vento e podia me transformar num furação. E comecei a mudar de forma, passando a levar muita dor a cidades inteiras, deixando um rastro de destruição. Os homens estavam desta vez reféns de mim. Eu era forte e podia acabar com a vida deles se quisesse. De repente uma tristeza imensa invadiu minha alma. Eu estava me igualando aos homens na pior forma de levar a dor aos outros. E logo me veio o arrependimento, e me transformei em brisa. Dessa forma eu me senti novamente útil, livre e responsável com a minha missão nesta terra.

Luiz Maia
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Um grito abafado no peito...
Por Luiz Maia

Ao remexer com o passado alguns fatos nos conduzem às boas ou más recordações. Em 1970 eu tive de ir morar em São Paulo. Cheguei a namorar uma moça judia, uma relação difícil devido à tradição judaica de só permitir à mulher a união com os judeus, pelo menos à época. Hoje, lendo uma de suas cartas, alguns sentimentos me levaram a um cenário distante cujos atores principais eram nós dois. Foi bom poder relembrar momentos especiais. Naquele tempo dividíamos tudo do pouco que tínhamos.

Repartíamos o pão, as alegrias e os instantes difíceis por que passamos. Éramos jovens, cheios de sonhos por realizar, mas não imaginávamos conhecer tão depressa os desencantos da vida. Eu não desejo esquecê-la, mas não queria falar de dores outra vez. Talvez eu nem queira mais relembrar o meu olhar diante de seu sorriso se esvaindo ao perceber aquela despedida. Eu era um menino ainda, sem saber nada do mundo. Sem dúvida aquele foi um dia triste para mim.

Éramos adolescentes, tentando viver o nosso amor. Não compreendíamos certos parâmetros da vida, lembro-me apenas que éramos felizes a ponto de sermos egoístas. Sentíamos uma alegria pela vida que mais parecia ofensa aos que se diziam tristes. Seu nome era Clarete, mas podia ser Sarah, Sheyla ou quem sabe Maria. Ao ouvir falar de nós dois, nas conversas com amigos, desconfiei que algo estava "errado" conosco. Mas como intuir com clareza as dúvidas se eu nem entendia o significado da palavra holocausto, genocídio ou kibutz? Eu ouvia calado e reconhecia as minhas limitações. Eu era inexperiente, saído do Nordeste do Brasil para residir em São Paulo, mas as pessoas não entendiam minha ignorância do que fosse etnia, no seu sentido mais amplo, como o cultural e genético.

Embora sem acreditar, os pais dela me disseram que não podíamos mais namorar. Daí em diante, como poucos, passei a entender de discriminação. Sofri preconceito por não ser "circuncidado", não ser religioso nem saber falar em iídiche. Não sabíamos os segredos do amor, mas nos amamos tanto! Não entendíamos de sensatez, mas vivemos nossa aventura.
Só agora compreendo a dor dos puros de coração, dos que são confundidos com alienados por serem ingênuos ou por não saberem nada de regras ou condutas sociais. Numa tarde fria do outono paulistano seus pais a colocaram num avião e a mandaram de volta ao seu País de origem. Eles não suportaram ver a alegria em seus olhos, por ela gostar tanto assim de mim. Só mais adiante, já cansado de andar a procurá-la, foi que eu entendi tudo. A ideologia é cruel quando ignora o amor, quando assume o objetivo de separar vidas por meio de um ódio ancestral, incompreendido por nós, mas rasgando de vez o sonho de pessoas que se querem bem.

Luiz Maia
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ana Maria
Por Luiz Maia

No início do ano eu tive o prazer de reencontrar, distraída na rua, minha querida amiga Ana Maria. Fazia mais de trintas anos que não nos víamos. É muito agradável voltar a ver alguém do tempo em que éramos jovens. Não demorou muito para que nos lembrássemos de fatos vividos em nossa adolescência. Hoje ela trabalha numa ONG de preservação ambiental, cuidando dos animais silvestres em vias de extinção. Sua aparência de senhora mantinha traços de quando ainda mocinha. Após alguns minutos conversando, nos abraçamos e nos despedimos.

Onde morávamos corria o boato de que ela não gostava da vida que levava, nada a satisfazia e vivia a dizer que não era feliz. Recordo-me da silhueta de moça bonita, demonstrando timidez na saída da Igreja do Espinheiro. Elogiada por muitos, estudava pela manhã numa escola particular, à tarde dava-se ao luxo de aprender inglês - coisa rara naquele tempo. Morava com os pais e irmãos. De fato eu não entendia ao certo a aparente insatisfação que havia em seu olhar. Passados mais de vinte anos, soubemos que ela se casara mas não estava satisfeita com o casamento. Comentando com um amigo, que também a conheceu, ele me confidenciou: "o problema de Ana Maria é a necessidade que sempre teve de ser reconhecida por seus valores, e não apenas pelo rosto bonito que tinha. Ela queria portanto chamar a atenção das pessoas, sendo essa a única maneira que encontrou de satisfazer o ego." Até hoje tenho minhas dúvidas se realmente era isto que a incomodava...

O interessante é que aquele nosso encontro me propiciou um mergulho em um passado que surgiu à minha frente, como se fosse o reflexo no espelho de tantas memórias perdidas. Ana Maria me permitiu divagar a seu respeito, imaginando seu jeito inconstante de ser. Quem sabe ela não sonhou com sentimentos duráveis, firmes como as rochas que seguram a fúria do mar? Mas com isso ninguém pode mesmo contar. Imagino que a amiga poderia ter aguardado um telefonema inesperado ou a figura do ser amado presenteando-a com flores. Talvez quisesse gozar infinitas alegrias, mas essas não são eternas... Gostei de tê-la encontrado e ter podido relembrar alguns momentos que se perderam na estrada da vida. Mas eu gosto mesmo é de conservar na lembrança coisas que ficaram dispersas, instantes vividos por mim num tempo que passou tão rápido, mas que arde em meu peito como fogo sem fim. Sinto-me atraído pelas recordações, principalmente aquelas que me fazem acreditar que valeu a pena ter usufruído tantos momentos prazerosos na vida.

Luiz Maia
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Apesar de você
Por Luiz Maia

Estamos desencantados com a espécie humana. Não se trata de pessimismo. O que acontece no Brasil e no mundo, objeto dos noticiários das TVs, rádios e jornais, não pode nos deixar contentes. A esperança que nos guia às vezes balança. Sentimo-nos oprimidos, sufocados e vulneráveis diante de tanta bandalheira. Como não se indignar com a corrupção, com as atitudes de pessoas arrogantes e desonestas que se encontram no centro do poder?

Que triste País é este no qual as pessoas aplaudem um ato de justiça? Um procedimento que deveria ser a regra, no Brasil é exceção. Saibam os senhores que atrás do juiz Sérgio Moro há milhões de brasileiros honrados que o apoiam em sua decisão de investigar a fundo os vários crimes cometidos por políticos e empresários contra uma Nação desprotegida. Falta ao eterno “País do Futuro” um “presente” digno, que se mostre capaz de alcançar o futuro sonhado.

Mas é na amizade que eu encontro o calmante que alivia. Às vezes nos gestos amenos de pessoas que sequer conheço. De alguma forma temos em comum a esperança por um mundo melhor. Ideais que se contrapõem à onda de maldade que nos ameaça, como se nada de bom fosse nos acontecer. É preciso nos unirmos visando formar novas consciências; valores transformadores que tragam à sociedade uma perspectiva diferente de vida, algo que modifique o interior de cada um.

Eu sempre busquei na minha vida o bem comum, sinceramente falando. Imagino que seja preciso deixarmos de idealizar apenas e retirar os sonhos da prateleira para transformá-los em ações. Asseguro-lhes que esta minha consciência por um mundo mais justo é que me faz escrever coisas assim. É claro que eu gostaria muito de os ter como especiais aliados dessa nossa energia que tenta melhorar o mundo. Pessoas de boa índole mergulham em projetos mobilizadores por estarem igualmente preocupadas com o surgimento de uma sociedade melhor.

Enquanto os bons ventos não vêm, falta-me tempo para participar da vida de forma mais adequada aos meus princípios. Por mais que a vida nos empurre para a louca correria, haverá sempre em mim o desejo de viver a felicidade do meu habitual cotidiano. Nada me impedirá de ser feliz. Quanto ao conceito que cada um tem da felicidade, não me cabe analisar. Tenho diversos afazeres que me levam a outros caminhos. A vida, apesar de tudo, é maravilhosa!

Luiz Maia
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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Volta à Barbárie
Luiz Maia

O Brasil voltou ao estágio de barbárie antes mesmo de conhecer a civilização. Vândalos, espalhados nas ruas, parecem ratos famintos na espreita para devorar o inimigo. Neste caso, o próprio homem, o semelhante indefeso. Não estão atrás do que comer, querem só depredar o que encontram pela frente: roubam, matam, destroem a esperança e a ilusão de que temos ordem e progresso no pavilhão Nacional.

Nas ruas do Recife Antigo é comum ver vagabundos vendendo drogas, praticando arrastões, infernizando a vida das pessoas. O mesmo drama se repete com os que residem no Rio de Janeiro, vítimas de agressões de marginais nas praias cariocas. Quem se arrisca a sair às ruas passará por experiências assustadoras. Os bandidos surgem de todos os lados para roubar famílias que buscam um pouco de lazer. Tudo é permitido em nome de uma suposta democracia. Uma tragédia romana em pleno século XXI, que se alastra por todo o território nacional.

A explosão demográfica, nas camadas pobres da sociedade, é um alto preço para a sociedade pagar. O governo não se preocupa com a gravidez de mães carentes, é omisso. Ampliar o acesso à informação para se evitar a gravidez indesejada é importante no combate à miséria, evitando a vinda ao mundo de filhos cujos pais não reúnem condições para criá-los. Falta competência para planejar o País. Apesar dos 39 ministérios, nenhum se dispõe a melhoria da educação, a implantar políticas públicas de acesso às modalidades esportivas. Se não oferecem oportunidades às crianças de rua, a consequência imediata é o surgimento de graves mazelas sociais.

A continuar desta forma, em breve os bárbaros vão nos proibir de sair de nossas casas. Cobrarão pedágios para nos permitir ir ao trabalho, levar nossos filhos ao colégio ou comprar o pão na esquina. Você será obrigado a ouvir funk, axé e sertanejo sem poder reclamar. Se prestar queixa, vão rir de você. Pagamos pela passividade de um povo diante de um País sem ordem e progresso, tomado pela corrupção.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.


"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."
Minha mãe

Luiz Maia

Todas as noites, ao falar com a minha mãe ao telefone, escutava manifestações de carinho. Ao final de nossas conversas, ouvia quando dizia: "tenha uma boa noite, meu filho. Eu te amo! Descanse e vá dormir em paz". Hoje minha mãe se encontra com 92 anos, doente e fragilizada pela artrose que a acometeu. De uns meses para cá ela ficou sem condições de conversar com os filhos, sequer ao telefone. São muitos anos recebendo o seu carinho como se fora a primeira vez. Uma rotina em nossa família. Deveríamos agir assim já que ninguém sabe o tempo que ainda nos resta de vida para externar nosso bem querer às pessoas. Não percamos tempo. Um dia o imponderável chega para nos tirar essas simples alegrias...

Se a claridade da manhã perde força e a escuridão avança, o inesperado surge e só então passamos a compreender que tudo que dávamos valor exagerado de repente perde o sentido. Nesses momentos nos sentimos impotentes diante da vida. Enxergamos nossa fraqueza e pequenez quando nada nos conforta diante do perigo iminente do instante limite. Nessas horas percebemos que as relações humanas deixam muito a desejar. Poderiam ser mais amorosas e menos tensas, mais aconchegantes e menos frias, com a aproximação maior das pessoas.

Hoje temos que acompanhar a nova forma de nossa mãe se relacionar conosco. Ontem até falou comigo, sorriu ao olhar para mim sendo atencioso com ela. Basta às vezes um olhar, sem falarmos nada, pois um gesto de amor fala mais que palavras. Fiquei feliz ao vê-la sendo cuidada por mãos capazes, por pessoas simples que a olham com compaixão. Não deixe para amanhã se tem a vontade de declarar amor ao próximo. Só vamos alcançar um estágio mais nobre na escala humana de valores se eliminarmos a vergonha de amar uns aos outros. Exaltemos o amor como o único sentimento capaz de acolher, por isto merecedor de ser vivenciado e compreendido em nossa fugaz existência.

Luiz Maia
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O poder da comunicação
Por Luiz Maia

Recentemente uma amiga confessou-me estar se sentindo triste e muito só. Pensei um pouco antes de responder. A condição de escritor não me confere o direito de adentrar em um assunto delicado como esse. Mas respeitei o seu desabafo por ter tido a coragem de expressar seus sentimentos. Sentir-se só talvez seja a simples constatação da ausência de alguém ao seu lado. É difícil conceber que precisamos aprender a viver sozinhos, curtir a solidão que nos ensina a ouvir mais vezes o silêncio que vem da alma. Sem essa introspecção diária fica difícil resolver essa questão. A vida nos diz que é preciso admitir essa verdade para podermos compreender melhor o outro, aprender com a vida. Aprender, sobretudo, sobre nós mesmos.

Imagino que o destino da humanidade se resume à necessidade que temos de ser, de existir como seres humanos. Isto só ocorre se nos aproximarmos do outro; se iniciarmos uma conversa com aquele que está ao nosso lado. Quando alguém nos conta de suas angústias, exprime momentos duros por que passou na vida, confia em nós e passa a falar de seus fracassos, dos recomeços, da cansativa espera é porque somos imprescindíveis para ela naquele momento.

Se buscarmos descobrir no outro as carências que estão latentes em nós mesmos, é a maior prova da importância de comunicarmos para que vivamos bem. A interação entre pessoas, em alguns casos até diferentes em essência, é a vitória da comunicação contra o medo de se expor. A permanente interação entre indivíduos reduz a inevitável solidão a que estamos sujeitos. Quando nos bastamos com nossas próprias existências, somos no mais das vezes egoístas e nos esquecemos de pôr em ação o nosso lado solidário. É por essas e outras que sou um defensor nato da tese de que devemos sempre interagir em nosso meio. Desse modo, só o fato de diminuirmos algumas distâncias que pareciam insuperáveis, já teria valido a pena.

Luiz Maia
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O alerta de uma jovem estudante
Por Luiz Maia

Ao entrar numa livraria encontrei uma moça folheando um livro com avidez. Sentei-me à mesa ao lado e escutei a conversa comovente entre duas estudantes de Colégio público. Pedi licença e passei a ouvi-las. Estavam desencantadas com o ensino público, com a péssima qualidade das instalações físicas dos educandários e a abusiva omissão do Estado perante os irrelevantes salários dos professores. A indisciplina entre alunos e professores, dentro e fora da sala de aula, foi alvo de crítica também. A mais indignada ressaltou a falta de motivação de alunos e professores para enfrentar a exaustiva rotina. Poucos têm compromisso de fato com a prática do aprender e do ensinar. Existe uma espécie de cumplicidade latente entre as partes. Na visão das estudantes, todos os envolvidos são vítimas do precário ensino público no País, fato que pode explicar o porquê do governo adotar as chamadas 'cotas sociais' nas universidades brasileiras.

A meu ver as mencionadas 'cotas sociais' servem apenas para legitimar a falência de um sistema que abona a incompetência do mau aluno, conforme afirmara a estudante, num inequívoco desrespeito ao critério de meritocracia, antes considerado. Eu acrescentaria que as referidas "cotas" deveriam despertar a consciência de que hoje o País dispõe de um sistema universitário à beira da falência, correndo o sério risco de perder em definitivo a credibilidade de que hoje ainda dispõe.
O responsável pelos desacertos nos vários setores do País é a flagrante incompetência de sucessivos governos que não perceberam a necessidade de se planejar o Estado brasileiro, com ações concretas a médio e longo prazos. Ao final o que se depreende é a indiferença crescente de supostos gestores que colaboram para que projetos equivocados de inclusão social ocorram no setor público. Resta-nos aguardar que a voz da estudante seja considerada e o País volte urgentemente suas atenções para a implantação de uma educação de qualidade para todos os cidadãos, independente de serem negros ou brancos, ricos ou pobres.

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domingo, 18 de janeiro de 2015

Meias verdades
Por Luiz Maia

A propaganda contrária à Contra Revolução de 31 de março de 1964, bastante divulgada na imprensa, escondeu verdades sobre fatos ocorridos à época. Em entrevista à Revista Veja o ex-ativista político Fernando Gabeira admitiu que "grupos de esquerda de resistência à ditadura não queriam a democracia e sim implantar no Brasil a ditadura do proletariado." Mesma afirmativa do candidato a presidente em 2014, pelo PV, Eduardo Jorge.

Os trabalhos da "Comissão da Verdade" foram concluídos. Entre suas atribuições está a de "colaborar com todas as instâncias do poder Público para a apuração de violações de Direitos Humanos", nos termos da chamada Lei de Anistia. A decisão de examinar os crimes de estado não foi da Comissão, mas determinação legal. O Congresso deveria ter mandado examinar os dois lados. E não o fez. Sem querer entrar no mérito, afinal qual a verdade apurada? E os crimes como sequestros, roubos e mortes praticados por guerrilheiros? Faltou contextualizar todo o período que antecedeu a Revolução. A comissão se resume, portanto, a "meias verdades". Seria como negar a própria História.

Recordo-me de uma ameaça sofrida por meus familiares, vinda de um amigo de infância, ativista comunista derrotado pelas Forças Armadas na contra revolução de 1964. Era o ano de 1963 e eu contava 16 anos. Certa noite estávamos reunidos com amigos em casa. Num dado momento, para nossa surpresa e indignação, ouvimos do amigo o seguinte recado: "quando a revolução triunfar vamos pendurar nos postes os burgueses, imigrantes e reacionários do País". O meu pai, português, foi durante 60 anos empresário no Brasil. Seria este o motivo? O sectarismo desferido contra amigos inocentes e alienados traduz o grau de fanatismo proveniente da lavagem cerebral a que muitos jovens foram submetidos. Dele não guardo rancor, ódio nem sentimentos menores. Talvez exista entre nós uma possível quebra de confiança.

Imaginemos se a revolução comunista sobrepujasse à contra revolução de março de 1964, inocentes seriam executado no paredão? Haveria Anistia política? Milhões de pessoas foram fuziladas por bandidos como Josef Stalin, Guevara e Fidel. Mortas em nome de uma nefasta ideologia. Revoluções que satisfizeram a sanha criminosa de assassinos cuja memória a história se encarregará de enterrar para sempre.

Luiz Maia
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