segunda-feira, 24 de março de 2014

Longa escuridão

Por Luiz Maia

De repente te abandonaram naquela sala imunda sem nenhuma explicação. Quebraram teus jarros com flores, queimaram teus livros, pisaram teus sonhos. Mataram as lindas orquídeas da sala de estar. Tolheram a vida quando impediram teu livre caminhar. Negaram-te o direito de saber como seriam os teus dias. Fizeram-te de boba para que não compreendesses a realidade, impedindo que não soubesses das noites escuras que estavam por vir. Puseram vendas em teus olhos, jogaram-te na mais longa escuridão. Calaram tua boca, amordaçaram tua alma. Inibiram teus sonhos, roubaram os amores que buscavam a ti. Até que um dia chegaram a dizer que não mais existias. Fizeram-te ciente apenas dos acontecimentos havidos nos corredores da dor. Tentaram te transformar numa pessoa sem nome, cuja aparência amarga negaria quem verdadeiramente és. Só não supunham que pudesses descobrir no infortúnio a graça da poesia, a chama acesa do inusitado da analogia que rege os temas grandiosos.


Desiludida e cansada, mesmo assim não seguistes o caminho que as forças tenebrosas quiseram te impor. Hoje só tens a agradecer à vida. Dizer bem alto que valeu a pena não desanimar, não sendo em vão ter acreditado em um novo amanhã. Ainda que por ora oculta, palpita agora a beleza do renascer da vida em teu coração. Só peço para que não esqueças dos amigos. Nem dos teus muitos amores, aqueles a quem amas tanto! Repare em tudo à tua volta, na claridade que começa a brotar dentro de ti. Mesmo no decorrer da dureza dos dias tristes, sempre aflorou em ti o desejo de enaltecer esse teu amor à vida. Hoje estás consumida pela luz das palavras, uma apaixonada pela vida que teima em existir. Há muitas verdades no mundo, todas precárias e provisórias. Aceitemos a complexidade da vida, esta que faz o homem agigantar-se no mundo e vencer os maiores obstáculos. Valeu a pena ter acalentado a esperança para que um novo tempo surgisse diante de ti.


Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

Literatura & Opinião! (Site pessoal)
http://www.luizmaia.blog.br/

Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

Tenho medo...
Por Luiz Maia

Eu tenho medo de ver novos amanheceres, de sair à noite e de me apegar às pessoas que só nos fazem bem. Eu tenho medo doutor, eu tenho medo. Tenho medo dos sinais de trânsito, das madrugadas sombrias, dos quartos escuros que só nos ensinam a conhecer a dor. Por isto eu fujo da frieza perpétua daquelas salas de mármores, dos corredores silenciosos e das portas de indicam que "é proibido visitas". Sou frágil e não resisto à fraqueza humana, à falsidade das pessoas que nos reservam o riso falso, que nos oferecem diversão em forma de vã alegria, provenientes da falta de amor. Eu tenho medo que você fuja dos meus braços, esqueça os meus afagos e pensamentos sem fim. Eu sinto medo de olhar em seus olhos e não mais reconhecer você. Eu tenho medo da distância que separa, da proximidade que não une, de ver o tempo passar sem ter mais a chance de rever você. Eu tenho medo de voltar a caminhar pelos mesmos parques, pelas praças desertas onde antes se avistavam crianças, o vendedor de sorvete e aquele casal de velhinhos lendo o jornal. Eu tenho medo de não mais ver a flor que era a razão de meus dias, que me dizia certas palavras que só mais tarde eu pude entender. Eu tenho medo de calar minha voz por não saber mais falar de amor.
 
Eu queria em breve reunir forças e me renovar para o mundo, ser feliz novamente e valorizar o amor à vida. Mas eu tenho medo de olhar para trás e não mais enxergar você. Eu tenho medo de voltar a sentir saudade da alegria que havia naqueles nossos encontros, momentos simples onde imperava a felicidade ao colher as flores que encontrávamos no caminho. Eu tenho medo de negar o ciclo do dia, que ao iniciar não tarda para findar, assim ocorre com os seres humanos. Ao ver um pôr-do-sol, começo a refletir na noite que chega trazendo consigo o silêncio revelador do quanto que é inútil este nosso apego à vida. Mas eu tenho medo da irresistível sensação de que partimos a cada instante. Sutil e suavemente vamos deixando tudo para trás. Não basta somente amar a vida, mas compreender que o Universo está em permanente mutação; sobretudo que a espécie humana envelhece e que novas gerações haverão de surgir. Eu só não tenho medo de ver no rosto da criança a mulher que um dia foi você!


Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Feliz dos alienados
Por Luiz Maia

Em uma certa fase da minha vida fui um completo alienado das questões políticas brasileiras. Vivia despreocupado, envolvido com meus próprios interesses. Talvez tenha sido feliz naquela época. A ignorância levava a um alheamento dos fatos negativos que ocorriam no país. Hoje sinto a angústia de quem tem a consciência de que nossa nação está trilhando caminhos tortuosos, seguindo em uma direção temerária, totalitarista. Esta triste realidade interfere profundamente na vida das pessoas, ainda que elas não se deem conta disso.

Posteriormente, passei a me interessar pelas questões sociais, pela política não partidária. Opinava, discutia, trocava idéias, participava, indiretamente, das campanhas eleitorais. E, por fim, votava nos candidatos que me pareciam corretos e honestos em seus propósitos. Não demorava muito porém para perceber que, após eleitos, as práticas eram contrárias às promessas dos palanques. Foi sempre assim. Ao me sentir frustrado em meu engajamento cívico, entendi que o procedimento eletivo não distingue a qualidade dos votos. Quem vota no candidato que oferece uma cesta básica, um saco de cimento ou uma prótese dentária tem a mesma força do eleitor esclarecido, que não se deixa enganar pelos programas eleitoreiros da estirpe do "mais-médico" e "bolsa-família".

Nesse caso há que se perguntar: "qual a representatividade de uma democracia cujo povo elege desqualificados, picaretas, vendilhões da pátria para representá-lo?" Claro que nenhuma! Um tipo de democracia, que termina quando você deposita o voto na urna, não passa de uma grande farsa. Onde impera a ignorância, prospera o político canalha; onde existe miséria, o que prevalece é a lei da sobrevivência. Eu não posso, nem quero calar, diante do que me parece o óbvio.

Após constatar que o sistema político brasileiro vigente é viciado, corrupto por excelência, resolvi não mais colocar os meus pés numa seção eleitoral para registrar o meu voto em qualquer candidato. Cansei de ser enganado. O regime democrático é, ainda, o que mais se aproxima do aceitável. Mas só dá certo nos países evoluídos, onde a população é, em sua maioria, civilizada. Não é o caso do Brasil, habitado, predominantemente, por um povo ignorante, semi-analfabeto, alienado ao extremo, incapaz de compreender as artimanhas daqueles que, encastelados no poder dos cargos que ocupam, causam tanto mal à sociedade, às instituições e à própria democracia.
Claro que vai demorar, mas as pessoas um dia saberão separar o meliante do cidadão.
 
Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE