quarta-feira, 18 de abril de 2012

Diario de Pernambuco - Recife, quarta-feira, 18 de abril de 2012
ARTIGO

A fábula do beija-flor

Luiz Maia*


Lembra da fábula do beija-flor? Aquele que tentou apagar um incêndio na floresta levando gotinhas de água em seu bico? Pois bem, pelo visto o beija-flor morreu queimado! Às vezes penso que o sonho acabou, que nada fará com que as autoridades reformulem a forma de agir ou de pensar. Imaginar um país decente e próspero, justo para todos, deve ser mesmo bom mas às vezes pode ser frustrante quando a realidade permanece tão longe do desejado. Se não vejamos a falta de seriedade que há num país que tem tudo para dar certo, mas que se ressente da ausência de verdadeiros estadistas. Muitos brasileiros, que se encontram magoados pela vida que levam, questionam se realmente vale a pena sonhar. É que a desilusão por que já passaram os impede de tentar erguer seus castelos. Eles sabem que, em um país que não oferece a mínima estrutura, o inesperado em breve fará ruir por terra toda a esperança por anos acalentada.

Relembro o fato de o Brasil ser conhecido como "o País do Futuro". Este bordão, no nosso entender, parece destinar ao país a credencial de eterno fatalismo. Em parte isso pode explicar a falta de planejamento nos vários governos, a médio e longo prazos. Enquanto isso o país segue dividido entre dois mundos: primeiro é o de um Brasil moderno, apresentando uma população que desfruta de ótimos índices de desenvolvimento humano, cerca de 10% das pessoas. Por outro lado existe um Brasil real, cuja maioria da população sofre todo tipo de infortúnios, recebendo das autoridades a prestação dos serviços básicos sem a qualidade mínima para conferir dignidade ao ser humano.

A cada ano a Receita Federal do Brasil bate recordes de arrecadação, mas ninguém entende a razão de tanto desleixo com a aplicação das verbas para a educação e a saúde públicas, por exemplo.Com relação à educação, a qualidade vem caindo nos últimos anos e muitos estudantes simplesmente desistem de continuar frequentando as salas de aula. Quem tem dinheiro desfruta de boas escolas e de ótimo atendimento médico, igualando-se aos melhores do mundo. Quem não dispõe de condições financeiras está sujeito a ver seus filhos tornarem-se analfabetos funcionais, ou ver um familiar seu morrer nas intermináveis filas de espera para tratamento da saúde, situação constrangedora de causar vergonha. São hospitais sucateados, prédios vazios, ambulâncias quebradas, faltam médicos e um corpo de auxiliares eficientes. Chegou-se ao cúmulo de faltar esparadrapo e algodão nas emergências.

O povo sabe que não tem o direito de ficar doente, pois em matéria de saúde pública o abandono é total. Este descompasso entre dois países é a causa da humilhação porque passam milhões de brasileiros que estão expostos à negligência do falido sistema SUS, ou de uma pseudo educação que não consegue formar ninguém. Resta-nos ainda a fama de sermos o país do "Futebol e Carnaval".

*Luiz Maia
Escritor
l.maia@terra.com.br