domingo, 1 de fevereiro de 2015

Minha mãe

Luiz Maia

Todas as noites, ao falar com a minha mãe ao telefone, escutava manifestações de carinho. Ao final de nossas conversas, ouvia quando dizia: "tenha uma boa noite, meu filho. Eu te amo! Descanse e vá dormir em paz". Hoje minha mãe se encontra com 92 anos, doente e fragilizada pela artrose que a acometeu. De uns meses para cá ela ficou sem condições de conversar com os filhos, sequer ao telefone. São muitos anos recebendo o seu carinho como se fora a primeira vez. Uma rotina em nossa família. Deveríamos agir assim já que ninguém sabe o tempo que ainda nos resta de vida para externar nosso bem querer às pessoas. Não percamos tempo. Um dia o imponderável chega para nos tirar essas simples alegrias...

Se a claridade da manhã perde força e a escuridão avança, o inesperado surge e só então passamos a compreender que tudo que dávamos valor exagerado de repente perde o sentido. Nesses momentos nos sentimos impotentes diante da vida. Enxergamos nossa fraqueza e pequenez quando nada nos conforta diante do perigo iminente do instante limite. Nessas horas percebemos que as relações humanas deixam muito a desejar. Poderiam ser mais amorosas e menos tensas, mais aconchegantes e menos frias, com a aproximação maior das pessoas.

Hoje temos que acompanhar a nova forma de nossa mãe se relacionar conosco. Ontem até falou comigo, sorriu ao olhar para mim sendo atencioso com ela. Basta às vezes um olhar, sem falarmos nada, pois um gesto de amor fala mais que palavras. Fiquei feliz ao vê-la sendo cuidada por mãos capazes, por pessoas simples que a olham com compaixão. Não deixe para amanhã se tem a vontade de declarar amor ao próximo. Só vamos alcançar um estágio mais nobre na escala humana de valores se eliminarmos a vergonha de amar uns aos outros. Exaltemos o amor como o único sentimento capaz de acolher, por isto merecedor de ser vivenciado e compreendido em nossa fugaz existência.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.  

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