terça-feira, 12 de julho de 2011

Fim de caso

Luiz Maia

O apartamento está impregnado de sua presença. Em cada canto sua imagem aparece como se fosse presença definitiva em minha vida. Antes eu me perguntaria o que interessa tudo isso se aqui você já não está? O mais importante foi admitirmos que nossa separação possibilitou o fortalecimento de uma forte amizade. Passamos a cuidar de interesses comuns a ponto de ficarmos felizes com o sucesso do outro. Sentíamos a surpreendente necessidade de conversarmos sobre tantas inquietações, sobre as questões que diziam respeito às dúvidas do coração. Quantas vezes você me pediu conselhos sobre seu namorado? E as vezes em que me ajudou a escolher um livro para uma amiga querida? Foi preciso ter passado por essas experiências com você para eu poder sair do meu casulo, do meu indisfarçável egoísmo que me levou à solidão por longos dias. Nossa separação nos serviu como ponte para alcançarmos o outro, para sermos solidários com as pessoas a quem queremos bem.

Hoje em dia passamos a rir de nós mesmos quando nos lembramos das brigas bobas, dos desencontros como se fôssemos duas crianças. Como está sendo bom poder falar de valores esquecidos sem ter medo de cobranças. Quando nos encontramos ou falamos ao telefone já não existe em nós aquela angústia que nos constrangia. O que existe é a certeza de que estamos abertos ao novo, às novas e enriquecedoras experiências. Hoje em dia eu a admiro mais que antes. Fico feliz ao vê-la desfilando sua maturidade, escolhendo o que deseja para ser na vida, amando mais livremente sem se preocupar com detalhes menores. Eu me sinto feliz por ter-me livrado dos sentimentos de culpa. Você é responsável pela liberdade de que hoje desfruto. Posso afirmar tranqüilo ter valido a pena tudo que vivemos juntos. Aprendemos muitas lições de vida, amadurecemos a ponto de perceber que certas atitudes são incompatíveis com o amor.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Amor à Natureza

Luiz Maia

Tenho visto da varanda a cidade do alto, por entre as árvores das ruas deste lugar. Fujo, como os saguis assustados, dos intermináveis engarrafamentos passeando pelo imaginário verde desta floresta. Essa maneira especial de gostar da natureza traduz um sentimento imperturbável, prazeroso eu diria. Tal como o andamento da vida, esse meu jeito persiste ao longo do tempo. Por outro lado, tenho sofrido demais ao presenciar o desprezo dos homens com o meio ambiente. Minha ligação com o verde, com a flora e com os animais é algo muito bonito dentro de mim. Só quem me conhece sabe como eu amo tudo isso. Chego a acreditar que se realmente existir a reencarnação, como pregam e creem os espíritas, certamente eu já fui um animal um dia ou, quem sabe, uma árvore ou mesmo um pássaro...


Um belo dia imaginei que eu me transformara numa frondosa e bela árvore, do pouco que ainda resta da Mata Atlântica. Eu me comprazia ao perceber que podia oferecer fruto e sombra às pessoas, além de embelezar o ambiente levando oxigênio para o homem respirar ar puro. Eu me sentia útil e feliz com o meu destino, até que um dia eu vi os homens se aproximarem de mim com motosserras e, sem nenhum escrúpulo, sem dó nem piedade, cortaram os meus galhos, deixando-me morta e deitada no chão. Em pouco tempo eu já fazia parte da mobília de alguma família, passei a ser um simples móvel... Continuando com esse inesperado sonho, eu pedi para nascer novamente, agora em forma de pássaro. E foi assim que eu renasci debaixo das penas azuladas de um lindo pássaro da Região Amazônica. Que maravilha era desfrutar do infinito das matas, do lindo e imenso céu azul! Eu acordava me sentindo livre, leve e dono do mundo. A minha vida era contagiada por pura alegria, cantando feliz para o mundo que me acolheu um dia. Perdi a conta das vezes em que eu voei sobre quilômetros e quilômetros de florestas virgens, planando sobre cachoeiras até voltar ao meu ninho. Mas um dia vieram os homens e me pegaram no alçapão. Preso, junto com outros pássaros, eles decidiram nos vender em cidades distantes. Não suportei os dias preso e morri. Não demorou muito para eu virar uma ave empalhada, uma forma estranha de prazer dos homens...
Mas aí achei de pedir a Deus para nascer novamente. Dessa vez eu quis vir em forma de vento. Sim, eu queria ser o próprio vento! Não demorou muito para eu estar em atividade de novo, só que mansamente. Mas aí comecei a me lembrar de outras vidas, do mal que me fizeram e num segundo tomei raiva dos homens. Num momento de total insensatez eu pensei em me vingar de todos eles. Afinal, eu era o vento e podia a qualquer momento me transformar num tornado. E comecei a mudar de forma, passando a levar muita dor a cidades inteiras, deixando um rastro de destruição. Os homens estavam desta vez reféns de mim. Eu era forte e podia acabar com a vida deles quando quisesse. Mas de repente uma tristeza imensa invadiu minh'alma. Eu estava me igualando aos homens na pior forma de levar a dor aos outros. E logo me veio o arrependimento e passei a atuar apenas como brisa. Somente assim eu passei a me sentir novamente útil, livre e responsável com a minha missão nesta terra.