domingo, 5 de julho de 2015

Entre a paz e a inquietude

Por Luiz Maia

Houve um tempo em que eu acreditei na possibilidade das pessoas serem mais solidárias. Apostei na esperança de ver uma humanidade mais feliz. Melhor em todos os aspectos. Talvez tenha sido isso o que de melhor ocorreu em minha vida. Hoje eu ando à procura de boas notícias mas confesso que está sendo difícil. Faz tempo que o brasileiro não encontra espaço para sonhar, agarrar-se à esperança ou mesmo falar de amor. As pessoas esqueceram os gestos lúdicos, a conversa fiada com os amigos nas calçadas em frente das casas, uma época distante em que tudo soava encantamento...

O meu espírito carrega consigo um corpo contrariado, mas logo se aquieta diante da beleza da noite. Mas a madrugada chega e eu preciso estar alerta para a realidade. Enquanto o dia não chega eu sigo caminhando a despeito de tudo. Não demora e eu começo a imaginar alguns fatores imprescindíveis para se forjar um homem. Eu queria dizer aos jovens que estudem. Trabalhem. Não esperem migalhas que não convém. Apostem na meritocracia. Sejam reconhecidos pelo seu próprio valor. Não aceitem favores de nenhum governo. Vivam do seu suor. Do conhecimento adquirido. Sejam generosos. Tentem agir com gratidão. Perdoem os gananciosos. Ajam com retidão. Valorizem a honradez. Reconheçam a honestidade como o alicerce do nosso caráter.

Se eu pudesse lhe dirigir uma palavra diria que exija menos dos outros. Entregue-se de corpo e alma à vida e agradeça em silêncio os anos vividos. Seja gentil. Olhe para as pessoas com a sinceridade de quem inspira amor. Vale a pena ser ético. Imponha no cotidiano ações que dignifiquem à espécie humana. Escute os sons da natureza. Contemple o pôr de sol. Curta a lua por trás das montanhas. Plante bastante árvores: elas um dia darão frutos, flores e sombra de que tanto necessitamos. Essas atitudes não passarão despercebidas. A natureza e a humanidade agradecem.

Levei a vida inteira a me equilibrar em cima de uma navalha: de um lado a vida, do outro a morte. Uma força estranha, que eu não sabia explicar a razão, sempre soprava a meu favor, empurrando-me para a vida. Eu precisava estimular o meu lado fraco a continuar insistindo em poder um dia ser forte. Mesmo incrédulo, por instantes, eu precisava mentir para mim mesmo e assim poder fazer valer a obstinação que em mim vivia adormecida. Sei que sobrevivo entre a paz e a inquietude porque aprendi com o silêncio a caminhar por estradas difíceis, mesmo tendo de me distanciar daqueles que, mais rápidos, conseguem sempre chegar à minha frente...

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Literatura & Opinião! (Site pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."