sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Os versos que eu te fiz...

Luiz Maia

Nas noites em que eu mais te quis, eu te respeitei tanto... Afinal tu não sabias que num determinado momento eras a única pessoa que me alegrava. Eu te amei, e muito te quis. Cheguei a pensar em falar tudo, tentei mas a timidez falou mais alto e eu me vi em silêncio outra vez. Hoje caminho apenas por amor à vida. Meu andar trôpego e lento é envolvido por circunstâncias, por sentimentos que me fazem recordar teu instigante olhar. Absorvido por pensamentos que penetram pela janela entreaberta, vindos de ti, maldigo a distância que nos separa e faz doer meu coração. Tudo isso acontecendo e eu aqui pensando, brincando com as palavras. E como sou fácil de me emocionar! Não sei como há pessoas sem sensibilidade, que não quebram suas amarras e não se deixam ser levadas pela emoção. Como conseguem sobreviver assim, sem falar de amor, com suas vidas certinhas, mas carentes de uma lágrima a escorrer pelo canto da face, quando a saudade bate no peito?

Hoje, sem excesso de bagagem, eu parto para uma saudável caminhada. Quero levar os meus passos até a próxima primavera. Uma primavera diferente, com matas intactas, com árvores cobertas de folhagens e muitos pássaros a cantar. Tu sabes que jamais perdi o encantamento pela vida. Em cada passo meu, deixo nas pegadas da areia a lembrança tua, mas trago comigo a esperança que me devolve a mesma alegria de antes. Vivo incontáveis alegrias ao perceber momentos que se parecem conosco. Eu que te amava, e tu que de nada sabias. E vivíamos assim os dois juntos, em minha imaginação, sempre felizes. Creio que a vida jamais vai separar os que se amam. Mansamente, sem fazer barulho, o mar conseguiu apagar da areia os versos de amor que eu fiz para ti.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Meu encontro com Vinicius

Luiz Maia

"Eu possa dizer do amor / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure." - Bem à vontade, sentado numa cadeira de bar do hotel, despojado de vaidades, metido numa bermuda surrada, foi assim que de repente Vinicius de Moraes surgiu diante de mim. Foi no ano de 1972, na cidade do Recife. Ao lado de Toquinho e Maria Medaglia, Vinicius viera participar do show 'Encontro', no Teatro Santa Isabel. Foi um prazer imenso poder conversar um pouco com ele, num hotel à beira-mar de Boa Viagem. Impressionava-me o fato dele não largar o copo de uísque. Não que ele ficasse a beber o tempo inteiro. Não era isso. Talvez mantivesse o hábito de levar consigo a bebida por necessitar de um apoio. Houve um momento em que ele elogiou a acústica do teatro e a cor esverdeada do mar nordestino. Depois, com um sorriso nos lábios, disse-me que as mulheres do Recife eram belas como as do Rio. Depois fizemos um brinde à vida, enaltecendo a mulher Brasileira. Uma noite eu fui ao show a convite dele. Como esquecer minha alegria ao vê-lo cantando músicas que eu só escutara nas rádios? Na verdade eu não sabia ao certo o presente que o destino me reservara, pois só passei a valorizar esse encontro anos depois de sua morte. Ignorava a real dimensão de sua importância na literatura e na música popular brasileiras. Vinícius de Moraes será lembrado como o maior poeta lírico do seu tempo.

Não teria sentido eu ficar aqui falando de suas qualidades porque outros assim já o fizeram. Apenas dizer que sua linguagem coloquial fez dele um dos maiores compositores da MPB, sendo freqüentemente requisitado para realizar shows pelo mundo afora, ao lado do parceiro Toquinho. Era fácil perceber em Vinicius a marca do poeta que cantava o amor no dia-a-dia, tendo na figura da mulher sua fonte de inspiração maior. O mundo inteiro pode conhecer suas poesias, sonetos e baladas. Foi uma honra poder conversar amenidades com o poeta, desfrutando de bons momentos ao seu lado. O fato é que ele merece o reconhecimento de todos pela arte que nos foi legada. Tenho guardado até hoje comigo um autógrafo seu, simples lembrança daquele nosso encontro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amores

Luiz Maia

Algumas experiências de vida nos conduzem fatalmente a falar de amor. Por este motivo não desejo mencionar fatos tristes nem apresentar fórmulas que amenizam os dissabores - embora isto seja também uma maneira de amar. Quero realçar o caminho que nos leva ao prazer de saborear a essência da vida. Falar de infinitos amores. Dizer que amamos tantas vezes quanto nossa capacidade de compreender que somos seres únicos, com o poder de nos enamorarmos sempre que o coração pedir. Tudo como se fosse nossa primeira vez. Renascemos a cada momento quando brota em nosso coração o desejo por alguém, a vontade de estar mais perto da pessoa amada. Conheci pessoas que passaram a vida inteira amando de diferentes formas, homens que conseguiram escrever seu destino de amor em amor, como os amantes embevecidos ao lado da primeira namorada. Essas pessoas conseguem amar seguidas vezes porque nelas existe um permanente espírito recriador, amam tanto quanto sua capacidade de saber reinventar esse amor.

Durante sua permanência nesse mundo, homens e mulheres seguiram construindo seus sonhos de significante grandeza, sem mesmo tomarem conhecimento de sua importância no embelezamento da vida. Fizeram de seu viver exemplos de como deveríamos interagir uns com os outros. Romperam obstáculos e preconceitos sem ligar para o que as pessoas diziam. Ousaram quando, munidos de seus propósitos, tentaram vencer o mundo. Essas pessoas compreenderam que sem esse amor seria como se lhes faltasse o próprio ar que respiram. Todas têm o dom dos poetas porque sabem ler a alma humana, gente que se impõe pelos gestos engrandecedores. Seres com estranhos desejos, tanto que por meio de suas ações dão exemplos de amor ao mundo. Humanos seres que pensam no próximo em cada minuto de suas vidas. Pessoas simples, mas que trazem consigo sentimentos envoltos em códigos que ninguém conseguiu traduzir um dia.