segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ana Maria
Por Luiz Maia

No início do ano eu tive o prazer de reencontrar, distraída na rua, minha querida amiga Ana Maria. Fazia mais de trintas anos que não nos víamos. É muito agradável voltar a ver alguém do tempo em que éramos jovens. Não demorou muito para que nos lembrássemos de fatos vividos em nossa adolescência. Hoje ela trabalha numa ONG de preservação ambiental, cuidando dos animais silvestres em vias de extinção. Sua aparência de senhora mantinha traços de quando ainda mocinha. Após alguns minutos conversando, nos abraçamos e nos despedimos.

Onde morávamos corria o boato de que ela não gostava da vida que levava, nada a satisfazia e vivia a dizer que não era feliz. Recordo-me da silhueta de moça bonita, demonstrando timidez na saída da Igreja do Espinheiro. Elogiada por muitos, estudava pela manhã numa escola particular, à tarde dava-se ao luxo de aprender inglês - coisa rara naquele tempo. Morava com os pais e irmãos. De fato eu não entendia ao certo a aparente insatisfação que havia em seu olhar. Passados mais de vinte anos, soubemos que ela se casara mas não estava satisfeita com o casamento. Comentando com um amigo, que também a conheceu, ele me confidenciou: "o problema de Ana Maria é a necessidade que sempre teve de ser reconhecida por seus valores, e não apenas pelo rosto bonito que tinha. Ela queria portanto chamar a atenção das pessoas, sendo essa a única maneira que encontrou de satisfazer o ego." Até hoje tenho minhas dúvidas se realmente era isto que a incomodava...

O interessante é que aquele nosso encontro me propiciou um mergulho em um passado que surgiu à minha frente, como se fosse o reflexo no espelho de tantas memórias perdidas. Ana Maria me permitiu divagar a seu respeito, imaginando seu jeito inconstante de ser. Quem sabe ela não sonhou com sentimentos duráveis, firmes como as rochas que seguram a fúria do mar? Mas com isso ninguém pode mesmo contar. Imagino que a amiga poderia ter aguardado um telefonema inesperado ou a figura do ser amado presenteando-a com flores. Talvez quisesse gozar infinitas alegrias, mas essas não são eternas... Gostei de tê-la encontrado e ter podido relembrar alguns momentos que se perderam na estrada da vida. Mas eu gosto mesmo é de conservar na lembrança coisas que ficaram dispersas, instantes vividos por mim num tempo que passou tão rápido, mas que arde em meu peito como fogo sem fim. Sinto-me atraído pelas recordações, principalmente aquelas que me fazem acreditar que valeu a pena ter usufruído tantos momentos prazerosos na vida.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.



"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."

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