Por falar em
Natal...
Luiz MaiaAo lado de minha casa morava um casal de velhinhos - Dr. Alcides e dona Adélia. Trabalhava para eles um homem chamado José. Seu apedido era Zé Grande. Morava com eles em um casarão com árvores frutíferas, no bairro de Água Fria. Estatura mediana, negro dos dentes bem alvos, ele gostava de ajudar as pessoas e até passava por alcoviteiro. Era comum vê-lo a levar recados dos meninos para as meninas. Fazia isso para se divertir, sempre com um sorriso nos lábios. Dele escutei bastante dizer que não queria ver nenhuma moça morrer no caritó. Zé Grande tratava as pessoas com muita atenção, embora às vezes extrapolasse dando uma de xeleléu. Isso lhe custara o apelido de corta-jaca dado por sua patroa, a finada e sisuda Adélia Barreto. Ele era um homem feliz. Usava um anel tinindo de novo no dedo médio da mão esquerda. Se alguém olhasse para sua joia ele logo assoprava dizendo que era de ouro puro de 18 quilates. E não parava mais com aquela ladainha. Ele era assim.
Nunca vi Zé Grande
amuado, chocho num canto da casa calado. Ao contrário, ele seguia a vida todo
ancho, às vezes gritando de contente e feliz. Difícil não o ver alvoroçado,
espivitado, correndo em direção à banca "A Sorte", no largo de Água Fria. Não
deixava de fazer, por nada, a fezinha no jogo do bicho. Ele apostava todo o dia
no milhar 2572. Depois corria na venda de seu Bento para comprar carne e verdura
para o almoço. Na volta parava em frente de nossa casa e gritava, em alto e bom
som: Dona Lourdes, bom-dia! Precisa de mim para alguma coisa? Mamãe respondia:
Obrigada, Zé Grande! Peço somente para você entrar e conversar um pouquinho com
a gente. Tudo bem, vou deixar esse catatau de compras em casa e volto assim que
terminar. Não demorava muito e lá vinha ele sorrindo com as duas pernas das
calças levantadas, deixando à mostra dois cambitos que não causavam inveja em
ninguém. Antes do almoço mamãe sempre convidava Zé Grande para almoçar conosco.
Mas ele dizia: Oxente dona Lourdes, vôte! Muito obrigado! E saía de fininho
dizendo preferir comer sua gororoba. Talvez por isso sua aparência meio guenza.
Mas nada tirava dele a alegria pela vida.
Ao falar dele eu me lembro dos momentos que antecediam o
período das Festas Natalinas. Ruas cheias de lâmpadas e luzes faziam brilhar os
adereços da época; músicas tocando nas rádios, e nas lojas os apelos consumistas
lembrando o Natal. Eu aguardava ansioso a chegada do Natal e com ele a alegria
de ver Papai Noel. Ele existia. Morava vizinho a mim. Antes de chegar o Natal,
Zé Grande não perdia os Pastoris. E na noite do dia 24 de dezembro me vinha uma
vontade imensa de ver Papai Noel. Na véspera de Natal Zé Grande batia lá em casa
vestido com os trajes do bom velhinho. Roupa vermelha surrada, a barba branca
não passava de um arranjo feito com algodão e as velhas botinas pretas estavam
maltratadas e sujas. O saco nas costas trazia um monte de papel e jornais velhos
que ele guardava de um ano para outro na petisqueira da sala de jantar.
Sua figura causava a maior alegria. Desse jeito aquele homem bom se achegava vindo em nossa direção. Ao entrar em casa dizia mais ou menos assim: Bendito seja nosso Senhor Jesus Cristo! E ele mesmo respondia: Para sempre seja louvado! Em seguida ele tirava dos bolsos bombons de menta e café para distribuir com as crianças. Depois de sua apresentação ele passava a contar estórias de trancoso noite adentro. Em sua face havia a mesma alegria pura que cativava a todos que o conheciam.
Sua figura causava a maior alegria. Desse jeito aquele homem bom se achegava vindo em nossa direção. Ao entrar em casa dizia mais ou menos assim: Bendito seja nosso Senhor Jesus Cristo! E ele mesmo respondia: Para sempre seja louvado! Em seguida ele tirava dos bolsos bombons de menta e café para distribuir com as crianças. Depois de sua apresentação ele passava a contar estórias de trancoso noite adentro. Em sua face havia a mesma alegria pura que cativava a todos que o conheciam.
Eu acredito que a época mais feliz de minha vida foi aquela
em que eu ainda acreditava em Papai Noel. Eu era um menino puro, ingênuo e
achava que no mundo só existiam pessoas boas e generosas iguais a Zé Grande. Na
minha mente não havia espaço para encontrar pessoas ruins. Mas o tempo passou
até que um dia soubemos que ele havia morrido. Não deixou mulher nem filhos.
Somente saudade entre aqueles que tiveram a sorte de conviver por muitos anos ao
seu lado. Quanta saudade do bom Papai Noel! O melhor de todos os papais-noéis
que encontrei foi sem dúvida o meu amigo Zé Grande. Dele eu sinto saudade até
hoje.
Literatura & Opinião! (Site pessoal)
http://www.luizmaia.blog.br/
http://www.luizmaia.blog.br/
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário