terça-feira, 14 de abril de 2015

Querem desqualificar o sentido dos protestos

Por Luiz Maia

Após às manifestações ocorridas em 15 de março o brasileiro voltou às ruas no domingo 12 de abril, demonstrando sua indignação com a roubalheira e o sucateamento do País. No entanto o que me chama atenção é o fato de governistas e setores da imprensa tentarem desqualificar o sentido do protesto, ressaltando um número menor de manifestantes que colocariam o governo numa possível zona de conforto. A comemoração no Planalto é prática recorrente de um governo que não respeita ninguém. Nossa primeira reação é o sentimento de nojo e de repulsa pela atitude de maus brasileiros que não enxergam que a razão básica dos protestos é a sociedade que não suporta conviver com quadrilhas instaladas em Brasília. Fechar os olhos para a importância das pessoas saírem às ruas, a demonstrar sua insatisfação com um desgoverno que comete escândalos que envergonham o País, nos parece uma atitude irracional.

A crise instalada no Brasil não é apenas de caráter político e econômico. Existe um vácuo de valores no terreno moral e ético que envolve os poderes públicos. As instituições estão tomadas por patrulhas ideológicas, vítimas da corrupção e da improbidade administrativa. Enquanto dormimos o País é surrupiado por quadrilhas disfarçadas em partidos políticos. Política virou sinônimo de falcatrua já que as autoridades não primam pela decência e a honestidade com a coisa pública. Vale dizer que os desmandos tiveram início quando o ex-presidente começou a semear o ódio na população jogando pobres contra ricos, negros contra brancos com a intenção de fatiar a sociedade em cotas e se perpetuar no poder. Em dois mandatos o falso "salvador da pátria" promoveu um retrocesso no relacionamento de classes no País, intensificando antigas desavenças relativas à cor da pele, condição social, poder econômico. Não resta dúvida que em breve este senhor será cobrado pelo enorme desserviço prestado ao País.

Enquanto o cenário político não muda aumenta o número de brasileiros que necessita fazer recall de caráter. Todos os dias a Polícia Federal sai por aí desarticulando quadrilhas em sintonia com o Ministério Público. Essas instituições têm se mostrado incansáveis no combate ao crime. Ambas merecem o respeito e a admiração da sociedade pelo excelente trabalho realizado. A realidade impõe dizer que o brasileiro não aceita as práticas de um partido que há 12 anos suprime nossos melhores valores, em nome de uma ideologia fracassada visando um projeto nocivo de poder. Mentira, corrupção, ilusão e falsidade. Seria este o "jeito petista de governar"?

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

Literatura & Opinião! (Site pessoal)
http://www.luizmaia.blog.br/

Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.



"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Amor à natureza

Por Luiz Maia

O homem é o maior predador do Universo. Ele assassina o semelhante, os animais para vendê-los e saboreá-los à mesa. Destrói matas e florestas, polui rios e mares. Eu não entendo tanta maldade. Amar à natureza é o melhor que há mim. Se existir reencarnação, como dizem os espíritas, devo ter sido um animal, uma árvore ou um pássaro em outras vidas...

Um dia imaginei que eu era uma frondosa árvore das poucas que restam da Mata Atlântica. Eu ficara feliz ao oferecer fruto e sombra às pessoas, embelezando o ambiente e levando ar puro e oxigênio para o homem aspirar. Eu me sentia útil e feliz. Até o dia em que alguns homens se aproximarem de mim com motosserras na mão. Sem escrúpulos nem piedade, cortaram os meus galhos, deixando-me morta e abatida no chão. Em pouco tempo eu fazia parte da mobília de uma família, passei a ser um simples móvel...

Continuando o inesperado sonho, pedi para nascer agora em forma de pássaro. E logo eu renascia debaixo das penas azuis de um lindo pássaro da Amazônia. Que maravilha poder desfrutar do infinito das matas, do imenso céu azul! Eu me sentia livre e dono do mundo. Minha vida era pura alegria, eu vivia feliz cantando para o mundo que me acolhia. Perdi a conta das vezes em que eu voei sobre quilômetros e quilômetros de florestas virgens, planando sobre cachoeiras até voltar ao meu ninho. Mas um dia vieram os homens e me prenderam em um alçapão. Humilhado, junto a outros pássaros, quando decidiram nos vender em cidades distantes. Não suportei os dias preso e morri. Não demorou muito para eu virar uma ave empalhada, uma forma estranha dos homens sentirem prazer...

Mas eu pedi a Deus para nascer novamente. Dessa vez eu quis vir em forma de vento. Não demorou muito para eu estar em atividade de novo, só que mansamente. Mas aí comecei a me lembrar de outras vidas, do mal que me fizeram e num segundo tomei raiva dos homens. Num momento de total insensatez eu pensei em me vingar de todos. Afinal, eu era o vento e podia me transformar num furação. E comecei a mudar de forma, passando a levar muita dor a cidades inteiras, deixando um rastro de destruição. Os homens estavam desta vez reféns de mim. Eu era forte e podia acabar com a vida deles se quisesse. De repente uma tristeza imensa invadiu minha alma. Eu estava me igualando aos homens na pior forma de levar a dor aos outros. E logo me veio o arrependimento, e me transformei em brisa. Dessa forma eu me senti novamente útil, livre e responsável com a minha missão nesta terra.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.



"É preciso entender que o sentimento de indignidade é saudável às pessoas. Aquele que pensa no bem estar coletivo se livra do egoísmo que o aprisiona. Colabore você também para que tenhamos um mundo melhor."
Um grito abafado no peito...
Por Luiz Maia

Ao remexer com o passado alguns fatos nos conduzem às boas ou más recordações. Em 1970 eu tive de ir morar em São Paulo. Cheguei a namorar uma moça judia, uma relação difícil devido à tradição judaica de só permitir à mulher a união com os judeus, pelo menos à época. Hoje, lendo uma de suas cartas, alguns sentimentos me levaram a um cenário distante cujos atores principais eram nós dois. Foi bom poder relembrar momentos especiais. Naquele tempo dividíamos tudo do pouco que tínhamos.

Repartíamos o pão, as alegrias e os instantes difíceis por que passamos. Éramos jovens, cheios de sonhos por realizar, mas não imaginávamos conhecer tão depressa os desencantos da vida. Eu não desejo esquecê-la, mas não queria falar de dores outra vez. Talvez eu nem queira mais relembrar o meu olhar diante de seu sorriso se esvaindo ao perceber aquela despedida. Eu era um menino ainda, sem saber nada do mundo. Sem dúvida aquele foi um dia triste para mim.

Éramos adolescentes, tentando viver o nosso amor. Não compreendíamos certos parâmetros da vida, lembro-me apenas que éramos felizes a ponto de sermos egoístas. Sentíamos uma alegria pela vida que mais parecia ofensa aos que se diziam tristes. Seu nome era Clarete, mas podia ser Sarah, Sheyla ou quem sabe Maria. Ao ouvir falar de nós dois, nas conversas com amigos, desconfiei que algo estava "errado" conosco. Mas como intuir com clareza as dúvidas se eu nem entendia o significado da palavra holocausto, genocídio ou kibutz? Eu ouvia calado e reconhecia as minhas limitações. Eu era inexperiente, saído do Nordeste do Brasil para residir em São Paulo, mas as pessoas não entendiam minha ignorância do que fosse etnia, no seu sentido mais amplo, como o cultural e genético.

Embora sem acreditar, os pais dela me disseram que não podíamos mais namorar. Daí em diante, como poucos, passei a entender de discriminação. Sofri preconceito por não ser "circuncidado", não ser religioso nem saber falar em iídiche. Não sabíamos os segredos do amor, mas nos amamos tanto! Não entendíamos de sensatez, mas vivemos nossa aventura.
Só agora compreendo a dor dos puros de coração, dos que são confundidos com alienados por serem ingênuos ou por não saberem nada de regras ou condutas sociais. Numa tarde fria do outono paulistano seus pais a colocaram num avião e a mandaram de volta ao seu País de origem. Eles não suportaram ver a alegria em seus olhos, por ela gostar tanto assim de mim. Só mais adiante, já cansado de andar a procurá-la, foi que eu entendi tudo. A ideologia é cruel quando ignora o amor, quando assume o objetivo de separar vidas por meio de um ódio ancestral, incompreendido por nós, mas rasgando de vez o sonho de pessoas que se querem bem.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
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