segunda-feira, 24 de março de 2014

Tenho medo...
Por Luiz Maia

Eu tenho medo de ver novos amanheceres, de sair à noite e de me apegar às pessoas que só nos fazem bem. Eu tenho medo doutor, eu tenho medo. Tenho medo dos sinais de trânsito, das madrugadas sombrias, dos quartos escuros que só nos ensinam a conhecer a dor. Por isto eu fujo da frieza perpétua daquelas salas de mármores, dos corredores silenciosos e das portas de indicam que "é proibido visitas". Sou frágil e não resisto à fraqueza humana, à falsidade das pessoas que nos reservam o riso falso, que nos oferecem diversão em forma de vã alegria, provenientes da falta de amor. Eu tenho medo que você fuja dos meus braços, esqueça os meus afagos e pensamentos sem fim. Eu sinto medo de olhar em seus olhos e não mais reconhecer você. Eu tenho medo da distância que separa, da proximidade que não une, de ver o tempo passar sem ter mais a chance de rever você. Eu tenho medo de voltar a caminhar pelos mesmos parques, pelas praças desertas onde antes se avistavam crianças, o vendedor de sorvete e aquele casal de velhinhos lendo o jornal. Eu tenho medo de não mais ver a flor que era a razão de meus dias, que me dizia certas palavras que só mais tarde eu pude entender. Eu tenho medo de calar minha voz por não saber mais falar de amor.
 
Eu queria em breve reunir forças e me renovar para o mundo, ser feliz novamente e valorizar o amor à vida. Mas eu tenho medo de olhar para trás e não mais enxergar você. Eu tenho medo de voltar a sentir saudade da alegria que havia naqueles nossos encontros, momentos simples onde imperava a felicidade ao colher as flores que encontrávamos no caminho. Eu tenho medo de negar o ciclo do dia, que ao iniciar não tarda para findar, assim ocorre com os seres humanos. Ao ver um pôr-do-sol, começo a refletir na noite que chega trazendo consigo o silêncio revelador do quanto que é inútil este nosso apego à vida. Mas eu tenho medo da irresistível sensação de que partimos a cada instante. Sutil e suavemente vamos deixando tudo para trás. Não basta somente amar a vida, mas compreender que o Universo está em permanente mutação; sobretudo que a espécie humana envelhece e que novas gerações haverão de surgir. Eu só não tenho medo de ver no rosto da criança a mulher que um dia foi você!


Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

Literatura & Opinião! (Site pessoal)
http://www.luizmaia.blog.br/

Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

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