quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sementes da discórdia
Por Luiz Maia
 
Vejo com apreensão o germinar das sementes de ódio em cada esquina do país. Sementes lançadas por um ex-presidente que tinha por hábito jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, com a clara intenção de fatiar a sociedade em cotas para se perpetuar no poder, no melhor estilo maquiavel. Em dois mandatos o falso "salvador da pátria" promoveu um retrocesso no relacionamento de classes no País, intensificando antigas desavenças relativas à cor da pele, condição social, poder econômico.
 
Hoje o brasileiro parece estar anestesiado, incapaz de levantar a voz contra as falcatruas e escândalos praticados pelos homens públicos que dirigem esta nação. Essa apatia da população é terreno fértil para que os gestores continuem ignorando a necessidade de adoção de políticas públicas de longo prazo que retirem o Brasil da vergonhosa posição mundial nos indicadores de educação, saúde, desenvolvimento humano. Sem educação de qualidade, a explosão demográfica nas classes mais desfavorecidas permanecerá fazendo parte da realidade nacional. Sem oportunidades, essas crianças irão engrossar, futuramente, a legião de desempregados, marginais e viciados que contribuem para os trágicos índices de violência que destroem tantas famílias.

Um efeito colateral desse cenário sombrio são os supostos movimentos sociais, financiados e/ou estimulados pelo governo federal, como o dos 'sem teto' e dos 'sem terra', e agora dos intitulados 'rolezinhos', que têm por objetivo levar o terror à vida do cidadão. Não bastassem esses agrupamentos institucionalizados, surgiram também os Black Blocs, de viés fascista, determinados a implantar o pânico na sociedade, esvaziando as legítimas e pacíficas manifestações que reivindicavam o fim da corrupção e serviços públicos de qualidade, contrapartida mínima para um povo que paga elevados tributos sem acesso às garantias constitucionais.


É de se perguntar onde estão as autoridades brasileiras que permitem que manifestações, com contornos político-ideológicos, impeçam o direito de ir e vir das pessoas e promovam depredações do patrimônio público e privado? Não se pode conceber que um bando de três mil adolescentes marquem encontros pelas redes sociais e entrem, de uma só vez, nos shoppings centers, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Falsos intelectuais, de forma irresponsável, afirmam que os 'rolezinhos' são o 'grito dos pobres'. Nada mais falso, já que tais jovens são assíduos frequentadores daqueles estabelecimentos comerciais, o que derruba a tese de repressão da periferia. Recente pesquisa Datafolha aponta que 70% dos jovens condenam essas manifestações. O resultado desmoraliza os patrocinadores da bandalheira. A sociedade precisa se livrar do esquerdismo delirante que tanto mal faz ao país.

De resto o Brasil não é a maravilha apregoada pela propaganda governamental. As instituições estão falidas e tomadas por patrulhas ideológicas, aliadas da corrupção, da improbidade e da incompetência. Enquanto dormimos, o país é surrupiado por políticos e empresários desonestos. A política virou sinônimo de falcatrua. Faz parte da cartilha dos governantes, desprovidos de espírito público e de ética, manter um povo sem educação, sem cultura e sem perspectivas, o que lhes assegura a perpetuação no poder, ancorados na ignorância do analfabetismo funcional. O tão decantado Brasil não passa na verdade de um arremedo de País.

Luiz Maia
Literatura & Opinião! (Blog pessoal)
http://literaturaeopiniao.blogspot.com.br/

Literatura & Opinião! (Site pessoal)
http://www.luizmaia.blog.br/

Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos", "À flor da pele" e "Tamarineira - Natureza e Cidadania. Recife-PE.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Diario de Pernambuco - Recife, sábado, 4 de janeiro de 2014

ARTIGO
No tempo do nosso tempo
Por Luiz Maia*
*Escritor
l.maia@terra.com.br

 
No Recife, lá pelos anos 60, um grupo de românticos, sonhadores e adolescentes passou a se reunir numa certa esquina no bairro de Água Fria, na Av. Beberibe. Mais adiante formaram o que hoje chamamos de 'amigos (quase) inseparáveis'. Nascia, portanto, a "Turma da Democracia". Passamos a ser conhecidos em vários locais, amados por uns, odiados por outros. Quem não se recorda das brigas de 'boca de loca', das sacanagens com seu Agenor, das injustiças cometidas contra 'tio' Zé? Frequentamos campos de futebol, a zona do baixo meretrício, os cinemas Olímpia e Império, colégios e clubes da cidade. Namoramos a valer, às vezes brigamos, amamos e dançamos em centenas de 'assustados' em companhia das namoradas, ouvindo o som dos Beatles, Renato e Seus Blue Caps, Os Vips e Roberto Carlos. Cansamos de nos abraçar comemorando algum feito, uma alegria qualquer, assim como nos abraçamos em solidariedade à eventual dor do amigo! Saudoso e inigualável "Tempo do Nosso Tempo".

Nos fins de semana íamos jogar bola, à noite assistíamos ao programa Jovem Guarda, tomávamos um banho correndo para namorar. Tarde da noite a turma inteira se encontrava na churrascaria de Figueiroa, em Esmeraldino ou na Cabana, no Parque Treze de Maio. Quando alguém 'brigava' com a namorada, geralmente seu destino era o Bar de Aurora, local onde desafogava suas mágoas, curtindo a maior roedeira escutando nas vitrolas de ficha as músicas que falavam de amores desfeitos. E haja Waldick na radiola de ficha. Saudoso e inigualável "Tempo do Nosso Tempo"...

Os jovens de hoje não estão tendo o prazer de conhecer uma das mais importantes manifestações do comportamento humano de que já se ouviu falar, o cultivar das verdadeiras amizades. O que morreu não foi a amizade propriamente dita, mas sim a arte de fazer amigos, o ajuntamento de pessoas a gozar a vida de forma natural e espontânea. Deixaram de lado o ar livre, o jogo de bola na rua, a finura no trato com as mulheres, a delicadeza ao se dirigir ao outro, as brincadeiras sadias em meio à natureza dos nossos quintais. Também não podemos esquecer das sacanagens que diferenciavam o comportamento dos verdadeiros democratas. Saudoso e inigualável "Tempo do Nosso Tempo"...

Quisera poder traduzir sentimentos que são comuns a todos, mas que nem sempre sabemos como os dizê-los. Falar o quanto que fomos felizes sem sequer compreender isso àquela época. Finalmente não esquecer de dizer, sobretudo, que embora distante daquele período fértil ainda nos sobrará tempo suficiente para relembrar "os anos de ouro" e sermos felizes outra vez. Reafirmo como é maravilhoso poder estreitar este contato e matar saudade com os velhos amigos, em algum restaurante da cidade, algo que fazemos praticamente duas vezes ao ano.