segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nada além
Luiz Maia

Escute essas minhas palavras em forma de ternura. São lembranças minhas. Um dia, no silêncio de seu quarto, quem sabe você possa escutá-las sem que o sentimento de culpa venha esconder sua alegria. Você nunca pediu para entrar no meu pensamento. De repente, você me invade e é quase impossível expulsá-la porque já sou eu quem a espera. Creio na força do pensamento e transformo esse meu gesto em alento cuja razão guia os meus passos. Admiro seu jeito de arrebatar corações, algo que mexe com o imaginário da gente. Sua alegria contagiante me levou um dia a pensar que você era um sonho de verão. Mas logo o inverno chegou, trazendo consigo a realidade.

Ah, esse desejo que me incendeia o peito chega a doer em minh'alma. Já não há escolhas, preciso confessar-lhe. Falo sobre o que considero um amor bonito, quando, a partir de um certo instante, eu passei a sentir por você uma atração forte a ponto de desejá-la. Até que um dia eu quis beijá-la, conhecê-la em sua intimidade. Mas em nenhum momento você usou de cumplicidade. Nas vezes em que eu a desejei, o sentimento de culpa logo se apoderou de mim. Percebi que você já não era a menina de antes e aquele seu jeito de mulher despertara em mim um sentimento bonito, mas de difícil compreensão. Sei que nem lembra, quando certa vez busquei melhorar sua aparência e sugeri que você mudasse de penteado. Eu a achava uma graça quando defronte do espelho escolhia suas roupas, arrumava o cabelo, sempre olhando para mim. Eu parecia um bobo apaixonado, admirando seu sorriso nos lábios, a me perguntar se ficara bonita.

Acontece que com o passar dos anos as coisas tomaram outras proporções. Além do natural amor que eu sentia, fui levado de repente por um desejo que era mais forte que eu. Sem que você soubesse, eu passei a olhar de lado os seus namorados. Quando se arrumava para eles, meu ciúme era visível. Por algum tempo fiquei refém desse sentimento e isso me incomodou em parte. Até que um dia resolvi escrever uma poesia em sua homenagem, nada além disso eu poderia fazer. Creio que não escolhemos o papel que vamos representar nessa existência de forma consciente. Vamos tocando a vida e sofrendo as conseqüências do que fazemos e pensamos. Só na maturidade alguns de nós conseguem entender o que somos, o que fizemos de nossas vidas. Mas aí muita pancada já levamos e não podemos mais voltar no caminho. Nada como o passar do tempo para apagar nossas fantasias, nossos sonhos de verão.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Relatos...

Luiz Maia

Certa tarde, ao ligar a TV por assinaturas, deparei-me com um relato de experiências sexuais de uma dita ex-garota de programa. Fiquei a imaginar por que a mídia oferece um espaço caríssimo a quem aparentemente não tem muito a acrescentar à vida de ninguém. Em poucos minutos ficamos sabendo que durante cinco anos ela já havia praticado sexo com aproximadamente 5 mil homens. Uma média de mil homens/ano. Parecia uma atleta olímpica elevando a taça de campeã de orgasmos múltiplos. Essa experiência ela exibia ao público como se fosse um lindo troféu. Em todo caso eu quis saber qual a real finalidade de sua presença naquele programa.


E continuei ouvindo o relato de suas experiências sexuais. De inegável beleza, a moça aparenta ter-se deixado levar por falsas quimeras, embora soubesse perfeitamente qual o alvo a atingir. Não nego sua fluência ao tratar de um assunto polêmico, no entanto reconheço que tamanha desenvoltura diante das câmeras e dos microfones a credenciam a galgar um lugar melhor, condizente com novas experiências de vida, algo que a redima de uma vez por todas daqueles ambientes promíscuos, elevando-a à condição de exemplo de mulher que, talvez por méritos próprios, conseguiu um dia mudar de rumo, passando a ser útil à sociedade ao realizar palestras alertando os mais jovens para o perigo dos falsos prazeres, do lucro fácil, da vida vã. Afinal, nunca é tarde para reconhecermos os nossos equívocos. Parabenizo-a por ter mudado sua postura diante da vida, sem esquecermos que a vida é feita de escolhas. São elas que inevitavelmente determinarão nossas existências. A vida é curta, mas a estrada é longa.